Caixas Acústicas
CAIXA ACÚSTICA DYNAUDIO SPECIAL FORTY
Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
Tive a oportunidade de testar as duas edições comemorativas deste conceituado fabricante dinamarquês de caixas acústicas: a Special Twenty-Five (que aqui foi apelidada de ‘25 Anos’) que é uma belíssima bookshelf, e a edição de 30 anos (Sapphire), uma imponente coluna com um design bem moderno.
A edição 25 Anos fez tanto sucesso que ficou em produção por muitos anos e teve, inclusive, melhorias ao longo do tempo no crossover e nos próprios falantes. Utilizei a ‘25 Anos’ como monitor em duas gravações da Cavi Records (SACD Lacrimae de André Mehmari e CD de Timbres) e tenho diversos amigos músicos que possuem esse modelo tanto para uso em monitoração de seus trabalhos, quanto em suas salas de audição.
A edição comemorativa de 30 anos, a Sapphire, não teve a mesma trajetória, sendo descontinuada dois anos depois do seu lançamento. Seu gabinete com pouca profundidade em relação a todos os modelos deste fabricante, e seu design que fugiu completamente do ‘DNA’ da marca, acredito que contribuíram para o pouco sucesso deste modelo comemorativo.
Para o aniversário de 40 anos, a Dynaudio resolveu investir novamente em uma bookshelf - a Special Forty - objetivando ter novamente junto ao público a mesma aceitação da ‘25 Anos’. Para uma data tão significativa (em um mundo em que as empresas sequer completam uma década de existência), os engenheiros da Dynaudio não pouparam esforços em desenvolver uma bookshelf digna de uma data tão importante, e criaram talvez uma de suas melhores bookshelfs de todos os tempos! Da linha da empresa, só a
Confidence C1 Signature a supera em performance!
A ‘40 Anos’ possui um acabamento um pouco inferior à C1, mas seus falantes são os mesmos utilizados na bookshelf da linha
Confidence, assim como também o crossover de primeira ordem. E os engenheiros foram além, nesse projeto comemorativo, ao melhorar o fluxo de ar e o amortecimento atrás do domo de tecido do tweeter de 28 mm. O objetivo foi diminuir ainda mais a distorção do tweeter quando o diafragma se move. O falante de médio-grave de 17 cm utiliza o tradicional cone MSP (Polímero de Silicato de
Magnésio) com enorme rigidez, porém muito leve. O fabricante afirma ser este a melhor unidade de médio-grave já fabricado e que ambas as unidades podem cobrir uma ampla gama (o tweeter pode trabalhar a partir de 1 kHz e o falante de médio-grave pode confortavelmente trabalhar até 4 KHz).
Segundo o fabricante, o ponto de corte no crossover da ‘40 Anos’ ficou em 2 kHz. Sua sensibilidade é de 86 dB e sua impedância nominal de 6 ohms. A ‘40 anos’ possui apenas dois acabamentos: cinza e vermelho (o modelo enviado para teste foi a com acabamento vermelho, que me remeteu imediatamente as caixas
Evolution Acoustics, com um acabamento muito semelhante). O gabinete em MDF possui a parte de trás ligeiramente menor que a da frente, deixando seu design muito mais parecido com os modelos da linha Excite do que a linha Contour ou Confidence.
A qualidade de construção é de muito bom nível. E um cuidado no acabamento, digno dos dinamarqueses. Em vez de folhas largas a cobrir por inteiro o gabinete, utiliza o processo de colar folhas de madeiras muito finas em uma laminação de centenas de camadas de finíssima espessura. O resultado faz que visualmente tenhamos a laminação com inúmeros veios, criando linhas como se estivesse entre o verniz e as folhas, dando um belo destaque e valorizando o produto. No gabinete vermelho, o resultado é ainda mais impressionante!
O fabricante indica que sua resposta de freqüência é de 41 Hz a 23 kHz (+ /- 3 dB) e a potência de pico é de 200 watts e a musical de 100 watts.
Lançada na Feira de Munique no ano passado, a Aniversário 40 Anos, pela sua faixa de preço (2990 Euros o par) mostrou que possuía pedigree para brigar no batalhão de frente das caixas bookshelfs mais tops do mercado. E foi exatamente isso que ocorreu: ‘40 anos’ ganhou inúmeros prêmios como bookshelf do ano e continua a ter uma trajetória de enorme sucesso mundo afora!
A Mediagear, ao disponibilizar o produto para teste, nos solicitou apenas que a avaliação fosse feita em um mês, pois o lote já estava todo vendido e uma nova importação somente para 90 dias. Como o produto veio lacrado, pusemos a caixa em amaciamento imediatamente, ainda que estivéssemos com uma agenda apertadíssima com consultorias e a produção das edições de Melhores do Ano e de março. Tinha lido uns dias antes a avaliação da Hi-Fi Choice, e o articulista escreve que ele não concorda que produtos precisem de queima, com exceção feita a caixas acústicas pela questão mecânica dos falantes. E ao fazer uma primeira avaliação da ‘40 Anos’ ele não gostou, por faltar peso nos graves e pouco arejamento em cima. Achou que seria suficiente um amaciamento de 20 horas, depois ele estendeu para mais 20 horas, depois para mais 10 horas, antes de iniciar o teste. No final ele se rendeu à caixa. Como ele não nos diz o quanto ele ficou com a caixa, não dá para saber quantas horas totais ele utilizou para escrever o teste. Só sei que, para nós, a Dynaudio 40 Anos só mostrou todos os seus atributos após duzentas e cinqüenta horas de queima!
Nas primeiras 50 horas, o ouvinte terá uma mera sombra de todo o seu potencial. Pois para se extrair toda sua beleza, energia, imponência, corpo e deslocamento de ar nos graves, serão necessários 180 horas no mínimo! Como toda caixa Dynaudio, seu som quando sai da embalagem parece totalmente engessado. A sensação é que toda a energia está focalizada nos médios. Com uma brutal transparência, velocidade e precisão, porém sem os extremos darem o ar de sua graça. Pelo alto grau de neutralidade em todos os modelos, aos que adoram uma coloração, a caixa pode parecer soar totalmente sem graça.
Mas se o consumidor tiver a paciência necessária para esperar as 250 horas de amaciamento (que é café pequeno, perto de inúmeras outras caixas) o resultado não só irá satisfazê-lo, como provavelmente você se tornará um fã incondicional da marca. ‘Dynaudistas’ dificilmente abandonam a marca, sendo uma das fidelidades mais sólidas no universo hi-end. Se duvidam do que estou descrevendo, entrem nos fóruns e leiam os testemunhos dos audiófilos e melômanos que possuem Dynaudio e tirem suas conclusões.
Ainda que eu não tenha mais uma Dynaudio (eu que fui um usuário da marca por quase 20 anos) como referência, reconheço a capacidade deste fabricante em avançar de forma consistente a cada novo produto apresentado ao mercado.
Recentemente, ao testar a Emit 20, fiquei muito encantado com o salto de performance alcançado em relação à antiga linha Excite (para os interessados, leiam o teste na edição 234). Minha curiosidade em relação à ‘40 Anos’ era justamente de comparar com a
‘25 Anos’, que foi uma caixa que tive e utilizei muito, e ainda hoje considero uma das melhores bookshelfs do mercado (principalmente pela sua resposta e qualidade dos graves).
Ao desembalar a ‘40 Anos’ é que me dei conta do quanto sou conservador em termos de design, pois fiquei frustrado em ver que o fabricante tinha mudado o design (que eu achava tão bonito e imponente na ‘25 Anos’). Mas ciente de que a Dynaudio não dá ponto sem nó, pensei: deve ser tudo em função da performance! Com caixas acústicas só faço uma primeira audição para saber o patamar que a caixa se encontra quando sai de fábrica, pois tirar alguma impressão é total perda de tempo. Dá para contar nos dedos as caixas que já saem tocando bem. Que me lembro assim, de memória: a Boenicke W5SE (mais essa talvez não vale, pois utiliza um full-range). Fiz minhas anotações e defini apenas as eletrônicas que seriam utilizadas no teste, além do nosso sistema de referência.
Os amplificadores foram: Emotiva XPA Gen 2, integrado Hegel H90. Powers: CH Precision M1 e Hegel H30. Pré-amplificadores: CH Precision L1 (leia Teste 1 nesta edição) e Dan D’Agostino. Fontes digitais: sistema dCS Scarlatti e DAC Hegel HD-30. Cabos de caixa: Transparent Reference XL, Sunrise Labs Reference Magiscope e
Quintessence. Cabos de interconexão: Ágata (RCA e XLR),
Transparent Opus G5 (XLR) e Sunrise Labs Reference Magiscope (XLR e RCA). Cabos de Força: Chord Sarun, Transparent Audio
PowerLink MM2 e Sunrise Lab Reference Magiscope.
Anotadas as primeiras impressões, minha sugestão a todos os interessados é uma queima inicial de 100 horas. Se possível com pelo menos umas 8 horas por dia em volumes mais acentuados
(80 a 90 dB). E o restante em volume moderado (60 a 75 dB). Seguindo essa formula, 100 horas (ou quase cinco dias ininterruptos), você terá uma ideia exata do potencial desta bookshelf. A partir desse ponto, já será possível sentar para fazer audições mais críticas. Os graves ainda estarão com pouca extensão, engessados e impedindo um maior deslocamento do ar, mas já serão velozes e com um timbre muito natural. No outro extremo, os agudos já possuem maior decaimento, mas carecem de um melhor arejamento, principalmente para a percepção das ambiências. Os médios, com 100 horas já recuaram, o que torna as audições, por longos períodos, mais prazerosas e livres de fadiga auditiva. Com 200 horas a caixa está quase que no seu ponto de equilíbrio. Os planos são muito melhor delineados, tanto em largura como profundidade e foco, recorte e ambiência aparecem de forma definitiva.
Os amantes de música clássica se sentirão recompensados pela forma holográfica com que esta bookshelf disponibiliza a orquestra sinfônica em nossa sala de audição.
O cuidado deverá ser com a escolha do pedestal que, além de rígido e pesado para soar inerte, devera ter altura suficiente para que o tweeter fique ligeiramente acima dos ouvidos, quando você estiver sentado. Isso fará toda a diferença, tanto na dispersão dos agudos, como na altura da imagem sonora. Nós utilizamos dois pedestais: o da caixa Devore Gibbon 3XL (leia teste na edição de 238, de março) e o da Audio Concept. A Dynaudio casou melhor com o pedestal da Audio Concept, pela rigidez e peso, deixando os graves muito mais precisos e com melhor corpo na região médio-grave. Com
280 horas nada mais mudou e iniciamos o teste auditivo.
Como toda Dynaudio, a Aniversário 40 Anos gosta de ser desafiada no volume. Se o amplificador tiver autoridade e se a sala permitir, as ‘40 Anos’ sentem-se à vontade tocando próximo ao volume ideal da gravação. Mesmo em nossa sala de referência, com quase
50 metros quadrados, o deslocamento de ar em gravações de órgão de tubo ou de big bands foi realmente impressionante. Levando-me a aceitar que também neste quesito a ‘40 Anos’ se mostrou superior à ‘25 Anos’, que inúmeras vezes utilizei em nossa sala.
Passando todos os quesitos de nossa metodologia em um comparativo entre a ‘25 Anos’ e a ‘40 Anos’, esta nova edição comemorativa ganhou em todos os quesitos. Um equilíbrio tonal mais coerente, uma apresentação do palco sonoro com melhor dispersão lateral e mais profundidade, melhor foco, recorte e ambiência, com um decaimento muito mais suave e correto. Transientes com melhor apresentação de tempo e ritmo, texturas com melhor transparência e mais neutras, assim como um silêncio de fundo maior que corroborou para uma apresentação de micro-dinâmica excepcional.
A macro-dinâmica obviamente possui os obstáculos físicos de um falante de 17 cm, mas os degraus entre o forte e o fortíssimo nos pareceram mais bem organizados em sua apresentação, dando maior inteligibilidade nessas passagens.
O médio-grave também apresentou melhor corpo harmônico, o que ajudou muito na reprodução de música com instrumentos eletrônicos (como contrabaixo elétrico). Resultado: em gravações primorosas a sensação de materialização física do acontecimento musical foi excelente.
Minha única duvida foi no único quesito subjetivo de nossa metodologia: Musicalidade. Aqui confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha, pois ainda que a ‘25 Anos’ siga o mesmo DNA de neutralidade do fabricante, o menor silêncio de fundo contribui para gravações tecnicamente limitadas ficarem mais ‘palatáveis’ nas audições. O que na ‘40 Anos’ é uma concessão que não existe, pois sua neutralidade aliada ao seu alto grau de transparência ‘escancara’ o que de errado foi feito no momento da gravação. No entanto, em gravações de boa qualidade, também no item musicalidade a ‘40 Anos’ é superior à ‘25 Anos’.
CONCLUSÃO
Como sempre digo, caixas acústicas serão sempre a assinatura do sistema. O leitor que se identificar com a proposta da bookshelf Devore Gibbon 3XL, testada na edição do mês passado, não se sentirá atraído pela assinatura da ‘40 Anos’, e vice-versa.
Por este motivo é essencial ainda que o leitor confie em nosso trabalho, que ele possa ouvir e tomar sua decisão pelo seu gosto musical. Afinal será ele que ira conviver por toda sua vida com o sistema escolhido.
Como dizia meu pai: “esposa e equipamento de áudio ninguém deve meter a colher”. Assino embaixo.
Para aqueles que desejam uma bookshelf que não possua restrição a nenhum gênero musical, deseje um som com peso e deslocamento de ar e possua uma sala de ate 20 m², aprecie uma sonoridade mais neutra com baixa coloração e que priorize nuances com um alto grau de transparência, a Dynaudio Special Forty - Aniversario 40 Anos - deve ser colocada na lista de opções.
Os cuidados serão pontuais, mas muito pertinentes: uma caixa com essas características técnicas e de assinatura sônica necessita de um amplificador com autoridade para controlá-la e a fonte também terá que ser de características similares. Com o integrado da Hegel H90, a sinergia não foi das melhores, pois ficou nítido em diversos gêneros musicais que a caixa necessitava de um amplificador com mais ‘músculos’. Em compensação, com o power Hegel H30 a Dynaudio se sentiu em casa e sua performance mudou de patamar. Tendo esses cuidados, certamente o investimento valerá cada centavo.
Uma bookshelf Estado da Arte com méritos!
NOTA 82,5
ESTADO DA ARTE
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