Caixas Acústicas
CAIXA ACÚSTICA DYNAUDIO CONTOUR 60
Fernando Andrette
fernando@clubedoaudio.com.br
A Dynaudio está gradativamente revendo todas as suas linhas, suprimindo algumas e dando um upgrade geral nas séries mais famosas. Esse é o caso da linha Contour, que passou por uma transformação total. A sensação que tive ao receber a nova Contour 60 para teste é que em nada a nova geração lembra as antigas Contour 1.1, 1.3, 1.8, 3.0 ou 5.4. A estratégia que me pareceu clara, com tamanho salto, foi aproximar essa linha ainda mais da linha Confidence
em termos de performance, porém com valores mais acessíveis. Tornando a vida da concorrência bastante complicada.
A Contour 60 é uma coluna de grandes dimensões e um
design conservador, mas imponente. A nova Contour utiliza o famoso tweeter Esotar 2, antes só disponível na linha Confidence, e novos woofers de extensão prolongada. O crossover, agora de primeira ordem, também sofreu profundas transformações em relação às séries anteriores, agora com o uso de capacitores Mundorf. A fiação também foi toda revista. Porém, fora todas essas alterações internas, o que mais chama a atenção é seu novo gabinete, com as difrações de altas freqüências reduzidas ao máximo, para uma audição fora do eixo muito melhor e mais equilibrada.
A maior parte do gabinete é de MDF revestida externa e internamente - agora no gabinete da linha Contour as paredes laterais são ligeiramente curvas, e suas paredes bem espessas de 1,5 polegadas (painel traseiro), 1 polegada (painel frontal) e 0,75 polegadas (as laterais). O painel frontal, onde são fixados os falantes, recebe uma folha de alumínio extrudado de ½ polegada, o que deixou não só a caixa visualmente mais bonita e bem acabada, como também tem a propriedade de deixar o gabinete absolutamente inerte a colorações.
Convivi anos com a Confidence 5 e com a Temptation e seus woofers de 6 a 7 polegadas, e confesso que tomei um susto ao desembalar a caixa e me deparar com dois woofers de 9 polegadas (algo inédito para a marca). O falante de médio de 6 polegadas não teve só mudanças externas mas também internas, segundo o
fabricante, com uma nova aranha assimétrica para melhor simetria no sistema de vibração e novas bobinas com 24% a mais de diâmetro - para que tanto o falante de médio e os woofers consigam trabalhar com maior volume e melhor dispersão de calor das bobinas.
Em números, temos uma potência nominal de 390 Watts, sensibilidade de 88 dB (2,83 V/1 m), impedância nominal de 4 ohms, resposta de freqüência de 28 Hz a 23 kHz (mais ou menos 3 dB), e freqüência de corte em 220 e 4500 Hz.
São seis acabamentos, como cetim claro de nogueira, carvalho marfim, carvalho cinzento alto brilho, laca de piano preto ou branco, e jacarandá escuro de alto brilho. Essa imponente caixa pesa 53kg!
O modelo enviado para teste lacrado foi em laca de piano preto. Por quase duas décadas foi o acabamento mais solicitado do mercado de caixas hi-end. Nos últimos anos começam a aparecer novas tendências, o que indica que voltamos a sair do lugar comum. Eu gosto muito de madeira natural, não sou muito fã de caixas acústicas pretas, então torço para que essa nova tendência se estabeleça e voltemos a ver caixas hi-end com acabamentos mais diversos.
Tínhamos sessenta dias para o teste e, conhecedor do longo período de amaciamento dos produtos deste fabricante dinamarquês, eu não perdi um segundo. A transportadora entregou, desembalamos e a colocamos em uma primeira audição imediatamente. Meu amigo, vou dizer uma coisa: foi a caixa mais torta da Dynaudio que tiramos da caixa e escutamos. Foi um susto. Aqueles baita woofers de 9 polegadas e o som engessado só com médio-grave e médio. Um agudo tímido e sem extensão. Tínhamos, naquele momento, dois powers também em queima: o da Emotiva XPA 2 e o M1 da CH Precision.
Ligamos as Contour 60, uma de frente para a outra, invertemos uma fase, cobrimos com um velho e surrado edredon e a deixamos em queima por seis dias ininterruptamente. Com pressão sonora de 90 dB! Tocando órgão de tubo, noite e dia! Quando sentamos para escutar novamente, foi outra caixa, literalmente!
Então, a todos que estão coçando os dedos para ouvi-la, uma dica fundamental: não percam seu tempo em ouvir elas antes de pelo menos 100 a 120 horas de queima. É uma transformação da água para vinho!
A qualidade dos seus graves eu só escutei na Temptation e na Platinum. Descem com uma autoridade, peso e deslocamento de ar, que encanta e convence que cada centavo investido será recuperado
em audições memoráveis. Muitos audiofilos vêem muitos méritos nas caixas Dynaudio, mas seus críticos costumam reclamar que, para o seu gosto, os graves soam secos ou com menos corpo. Pois à esses eu digo: escutem essa nova Contour 60. Até eu que convivi com Dynaudio por 20 anos me surpreendi e aprovei a mudança! Os bumbos, tímpanos conseguem ter a velocidade, com um decaimento muito mais homogêneo e com mais corpo.
Com isso o médio-grave também foi favorecido por essa nova assinatura sônica, apresentando corpo e decaimento muito mais
fidedigno. A região média de todas as caixas Dynaudio sempre foi muito correta, com excelente transparência, naturalidade e velocidade. A nova Contour 60 não foge a essa regra. Sempre apreciei essa virtude tanto em vozes como em instrumentos acústicos. E sua neutralidade nesta região sempre causou muita controvérsia, pois são caixas muito explícitas e, portanto, muito dependentes da qualidade da eletrônica e dos cabos.
A qualidade do tweeter também não me causou surpresa alguma, já que convivi por quase uma década com o Esotar 2. Gosto demais da assinatura sônica deste tweeter de domo de tecido.Muito correto, excelente velocidade, transparência e corpo. Novamente, como na região média, sua performance depende muito da qualidade dos cabos de caixa e da eletrônica. Minha experiência mostrou que ele é muito suscetível ao uso de prata, preferindo um bom cabo de cobre OFC.
Pelo seu volume e porte, a Contour 60 é uma caixa que precisa de sala e respiro. Não gosta de trabalhar próxima à parede e nem tampouco com distâncias menores que 2,80m entre as caixas. Na nossa sala de testes ela ficou a 1,98 m da parede as costas da caixa, 1,50 das paredes laterais.3,40 entre elas e com um toe-in de apenas 15 graus.
O sistema utilizado para o fechamento das notas, em todos os quesitos da metodologia, foi: powers Hegel H30 e CH Precision M1. Pré-amplificadores Dan D’Agostino e CH Precision L1. CD-Player: sistema dCS Scarlatti e CH Precision C1. Cabos de caixa: Quintessence (leia Teste 4 nesta edição) e Transparent Reference MM2.
Com 280 horas de queima, a Contour 60 finalmente estabilizou. Você terá absoluta certeza de que o amaciamento chegou ao fim quando você tiver a imagem sonora estabilizada, tanto em termos de largura, como profundidade e altura. Enquanto você tiver mais largura do que profundidade, ainda o amaciamento não terminou. E, se não terminou, esqueça tentar posicionar as caixas, pois você fatalmente terá que mexer novamente depois de todo o
amaciamento.
Em termos de profundidade, quando a caixa tem respiro a sua volta em relação às paredes, a Contour 60 é espetacular. As caixas somem na sala de audição! Seja escutando uma grande orquestra ou um pequeno grupo de câmera! E, se você tem equipamento e sala, a pressão sonora nos ‘tutti’ e o deslocamento de ar são arrebatadores! Você sente a energia escorrer pelo chão da sala e subir pelas pernas.
Sua neutralidade na região média e sua transparência permitem ao ouvinte observar a técnica vocal de cada cantor, a forma como ele utiliza o diafragma ou sustenta as notas. Assim como extrair o sumo de cada textura, tanto em termos de intencionalidade, como na técnica e qualidade do músico e do instrumento. Em excelentes gravações, essas nuances se tornam proeminentes e nos levam a desejar ouvir várias vezes aquela passagem, para memorizar auditivamente aquele detalhe. Todos gostamos de sermos surpreendidos por nuances que não havíamos notado antes em nossos discos favoritos, não é verdade? E a Contour 60 é expert em tirar esses ‘coelhos da cartola’.
Um equilíbrio tonal corretíssimo, um soundstage primoroso, texturas palpáveis, energia, tempo e ritmo que nos colam à cadeira, e temos uma síntese exata das qualidades da Contour 60.
Mas não acaba ai. A Contour 60 possui um fôlego e uma autoridade bem rara em sua faixa de preço, que é fundamental para a audição de grandes obras sinfônicas. Se você busca uma coluna com essa qualidade, a Contour 60 precisa estar na sua lista de audições. Fizemos audições de musica sinfônica realmente comprometedoras até mesmo para colunas muito mais caras, e a condução desses exemplos foi exemplar! Folga, controle absoluto, mesmo nas passagens mais complexas, sem nenhum desconforto ou endurecimento do sinal. Foi a qualidade que mais nos encantou e surpreendeu!
CONCLUSÃO
A Dynaudio a cada novo upgrade de suas linhas é capaz de surpreender sempre. A paixão que os moveu a construir caixas quase que artesanalmente nos primeiros anos da empresa, parece ainda ser o combustível que move seus profissionais em busca da perfeição.
Minha primeira caixa da marca foi exatamente uma Contour 1.8, que comprei em 1995. Me apaixonei ao ouvir alguns detalhes que não tinha escutado em nenhuma outra caixa até aquele momento. Pois bem, duas décadas depois volto a me encantar, agora com o salto ‘quântico’ dado pela nova geração Contour Século 21! Uma caixa que possui uma relação custo e performance espetacular!
Uma caixa Estado da Arte, que pode perfeitamente ser sua referência por muitos e muitos anos!
NOTA 93,0
ESTADO DA ARTE
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